Nas redes sociais, não faltam conteúdos prometendo um “detox milagroso” para o fígado com o uso de frutas e sucos naturais. Mas será que isso tem respaldo científico? Médicos e especialistas em nutrologia e hepatologia esclarecem o que é mito e o que realmente contribui para a saúde hepática.
Neste artigo, você vai entender:
- O que a ciência diz sobre o “detox do fígado”
- Quais alimentos oferecem proteção às células hepáticas
- A melhor forma de consumir frutas
- Quantidade diária ideal de frutas para pessoas saudáveis
- O que realmente deve ser feito para tratar a gordura no fígado
- O que é, de fato, a esteatose hepática
1 – Detox do fígado realmente funciona?
De acordo com a médica nutróloga Aline Zanetta, membro da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), a promessa de produtos e dietas que oferecem um “detox do fígado” carece de comprovação científica sólida. O grande equívoco difundido nas redes é a crença de que determinadas frutas têm poderes quase milagrosos.
Na realidade, a formação de gordura no fígado está diretamente relacionada ao excesso de peso corporal. O mesmo tipo de gordura acumulada no abdômen, por exemplo, pode também se depositar no fígado. No entanto, uma alimentação balanceada – rica em frutas e vegetais – pode sim contribuir positivamente para a saúde do órgão, principalmente em casos de doença hepática gordurosa não alcoólica (MASLD).
Segundo a endocrinologista e nutróloga Samara Rodrigues, do Grupo Valsa, o tipo de gordura consumida é crucial. Gorduras saudáveis, como as presentes em peixes, nozes e abacate, têm efeito protetor. Já as saturadas e trans – comuns em carnes processadas, biscoitos e sorvetes – devem ser evitadas.
2 – Alimentos que ajudam a proteger o fígado
Embora nenhum alimento seja capaz de “limpar” o fígado de forma direta, alguns possuem compostos antioxidantes que ajudam a proteger as células hepáticas contra inflamações e danos. Veja as frutas destacadas pelas especialistas Aline Zanetta e Luana Limoeiro (doutora em Ciência e Tecnologia dos Alimentos pela UFRJ):
- Frutas cítricas (limão, laranja, toranja e abacaxi): ricas em vitamina C, ajudam a combater radicais livres e fortalecem o sistema imunológico.
- Abacate: fonte de glutationa, antioxidante que auxilia na eliminação de toxinas e reduz inflamações no fígado.
- Maçã e pera: contêm pectina e outros antioxidantes que contribuem para a eliminação de toxinas.
- Uvas escuras e groselhas vermelhas: possuem resveratrol, substância com forte efeito protetor hepático.
- Mirtilo (blueberry): tem antocianinas e vitamina C, que combatem inflamações.
- Morangos: as sementes concentram polifenóis como o ácido elágico e o tilirosídeo, ambos com propriedades benéficas ao fígado.
- Cranberries e framboesas: contêm altos níveis de ácido elágico.
- Aronias: com alta concentração de compostos fenólicos, o suco da fruta se destaca pela potente ação antioxidante.
Um estudo de 2020 apontou que uma ingestão elevada de ácidos fenólicos está associada a menor prevalência de esteatose hepática e resistência à insulina. Esses compostos estão presentes principalmente nas frutas vermelhas, cítricas, uvas, romã e também no chocolate amargo.
3 – Qual a forma ideal de consumir frutas?
A recomendação dos especialistas é consumir frutas in natura, preferencialmente após as refeições e em porções adequadas. Embora pareçam saudáveis, os sucos de frutas não são recomendados, mesmo para pessoas sem problemas hepáticos. Isso se deve à alta concentração de frutose líquida, que pode sobrecarregar o fígado, especialmente em pessoas com diabetes, pré-diabetes ou resistência à insulina.
O excesso de frutose – presente naturalmente nas frutas – também pode favorecer o acúmulo de gordura no fígado, por isso a moderação é fundamental, mesmo no consumo de alimentos naturais.
4 – Quantas frutas comer por dia?
Para indivíduos saudáveis, com peso corporal adequado e sem doenças metabólicas, a recomendação geral é de três porções de frutas por dia. Essa quantidade pode variar de acordo com o metabolismo e o estilo de vida de cada pessoa. Quem não consegue manter esse consumo regular deve buscar a orientação de um nutricionista.
5 – O que fazer de fato para tratar gordura no fígado?
O tratamento da esteatose hepática não envolve fórmulas mágicas, e sim mudanças no estilo de vida. Médicos e entidades de saúde são unânimes ao afirmar que hábitos saudáveis são essenciais para a melhora do quadro:
- Reduzir o peso corporal e a gordura abdominal
- Praticar atividades físicas regularmente
- Ter uma alimentação equilibrada, com mais alimentos naturais
- Reduzir o consumo de frituras, carboidratos simples e gorduras ruins
- Evitar álcool, ultraprocessados, fitoterápicos e chás “detox” sem prescrição médica
- Beber bastante água
- Evitar o tabagismo
Não existem medicamentos específicos para eliminar a gordura do fígado. O foco do tratamento é sempre a mudança de comportamento e alimentação.
6 – O que é esteatose hepática?
A esteatose hepática, conhecida como gordura no fígado, é uma condição que tem crescido com a epidemia de obesidade. Estima-se que cerca de 30% da população mundial apresente essa condição, que pode evoluir para quadros mais graves caso não seja tratada.
Ela está associada ao sedentarismo, ao excesso de peso, ao diabetes e ao colesterol elevado. O consumo de bebidas alcoólicas também pode ser fator de risco, isoladamente ou em combinação com causas metabólicas.
Segundo Aline Zanetta, o fígado é o principal responsável por eliminar substâncias tóxicas do organismo e possui uma notável capacidade de regeneração. No entanto, a persistência de fatores de risco pode comprometer essa capacidade ao longo do tempo.