Neste texto você vai entender por que o presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes, foi preso pela CPMI do INSS. Ele prestou depoimento de nove horas e acabou detido por falso testemunho em investigação sobre um esquema que teria movimentado mais de R$ 800 milhões.
CPMI prende presidente da Conafer por falso testemunho
Você viu a sessão que durou quase nove horas? Na segunda-feira (29) a CPMI do INSS interrogou Carlos Roberto Ferreira Lopes. Depois de muita pressão dos membros da comissão, o presidente da CPMI, senador Carlos Viana, pediu a prisão por falso testemunho. Lopes foi detido na madrugada de terça (30), porque não apresentou habeas corpus preventivo e foi chamado como testemunha. Mais tarde, ele pagou fiança e saiu — o valor não foi divulgado.
O que a comissão alega contra Lopes
O relator Alfredo Gaspar disse que Lopes seria mais um operador dos esquemas que desviaram dinheiro de aposentados e pensionistas, comparando-o a Maurício Camisotti. Segundo a CPMI, pela Conafer passaram mais de R$ 800 milhões. Desses, cerca de R$ 140 milhões teriam sido direcionados a um assessor chamado Cícero Marcelino, apontado como um dos operadores do esquema.
A apuração da comissão integra um conjunto maior de investigações sobre possíveis desvios e irregularidades no INSS, que já foram objeto de reportagens e levantamentos sobre bilhões supostamente desviados (apuração sobre bilhões supostamente desviados do INSS).
Quem é Cícero Marcelino
O nome aparece repetidamente nas apurações. A comissão diz que Marcelino teria ligação com empresas que receberam recursos da Conafer, entre elas a Santos Agroindustria Atacadista e Varejista, que teria recebido cerca de R$ 100 milhões.
A Receita não registra Marcelino como dono direto, mas o endereço da empresa coincide com outra empresa dele em Presidente Prudente (SP). Além disso, Marcelino e Lopes são sócios em uma empresa offshore em Delaware (EUA), que Lopes afirmou ter sido criada para desenvolver uma fintech de cobrança e bancarização.
Contradições nas falas
No depoimento surgiram contradições. Questionado sobre sócios em empresas ligadas à Conafer, Lopes inicialmente disse não saber; depois, informado que Marcelino seria o dono, não negou. Também afirmou que Cícero “nunca foi funcionário da Conafer” e reduziu o termo “assessor” a uma relação de amizade: “assessor são os egos da amizade, né? É o querido, é o amigo”.
A deputada Bia Kicis perguntou quantas empresas brasileiras Lopes era sócio. Ele respondeu que só a Conafer, mas a Receita Federal aponta que ele figura como sócio-administrador de outras duas empresas, em Minas e em Brasília. Nomes e números não batem com as respostas dele.
Novos cadastros durante a pandemia
Um documento interno do INSS, de outubro de 2020, mostrou que a Conafer incluiu descontos em 95.818 benefícios entre abril e agosto de 2020 — em quatro meses. O INSS calculou que isso exigiria mais de 630 autorizações por dia, o que levou a Diretoria de Benefícios a pedir a rescisão do Acordo de Cooperação Técnica com a Conafer.
A defesa afirmou que não pôde enviar autorizações porque sedes estaduais estavam fechadas na pandemia; o INSS discordou e levou os dados ao processo. Esses cadastros atípicos se somam a outros levantamentos sobre pagamentos indevidos e falhas de controle, como os relatados em auditorias que identificaram bilhões em irregularidades (levantamento do TCU sobre pagamentos indevidos).
Operações e destino do dinheiro
Lopes afirmou que parte dos recursos foi usada para locação de veículos, compra de sêmen, insumos para melhoramento genético e até brinquedos em ações de Natal — segundo ele, mais de 300 mil brinquedos foram entregues em 2023 e 2024. A CPMI, porém, aponta pagamentos repetidos e empresas que receberam altos valores e têm relações suspeitas com assessores e sócios.
Resumo do dia
A sessão durou cerca de nove horas. Após pedidos dos membros, o presidente da CPMI decretou a prisão por falso testemunho. Lopes foi detido, ficou preso e depois foi solto mediante fiança. Esta é a segunda prisão da comissão; na semana anterior, o ex-diretor financeiro ligado ao chamado “Careca do INSS”, Rubens Oliveira, também havia sido detido. O caso segue em investigação e tem várias pontas a serem puxadas — parte dessas apurações integra investigações em andamento no Congresso sobre fraudes mais amplas no INSS (investigação do Congresso sobre fraudes no INSS).
Questões que ficam
Como tantos cadastros novos passaram batido durante a pandemia? Às vezes documentos e depoimentos divergem — quando as peças não se encaixam, a comissão prende. Cabe ao público acompanhar e cobrar transparência nas investigações. Há ainda debates sobre interferências institucionais que podem afetar o ritmo das apurações, como episódios recentes de intervenção judicial que, segundo relatos, atrasaram procedimentos em outros casos (intervenção que teria atrasado investigações).
Conclusão
O depoimento de quase nove horas terminou com detenção por falso testemunho e saída mediante fiança. Há alegações de movimentação de mais de R$ 800 milhões, indícios de repasses a Cícero Marcelino, empresas que receberam milhões e até uma offshore no exterior.
As contradições nas falas de Carlos Roberto, somadas a documentos do INSS sobre cadastros atípicos na pandemia, deixaram a CPMI com mais perguntas que respostas. A prisão temporária e a fiança mostram que a CPMI do INSS pretende aprofundar as apurações — e haverá novos capítulos.
Perguntas frequentes
- Por que o presidente da Conafer foi preso?
- Foi preso por falso testemunho durante depoimento à CPMI do INSS. A prisão foi decretada pelo presidente da comissão, senador Carlos Viana, após pedidos dos membros.
- Quando e como ocorreu a prisão?
- Lopes depôs na segunda (29) por cerca de 9 horas. A prisão ocorreu no começo da madrugada de terça, 30/09/2025. Ele não tinha habeas corpus preventivo e pagou fiança para ser liberado.
- Do que a CPMI o acusa especificamente?
- O relator Alfredo Gaspar aponta Lopes como articulador de um esquema que desviou recursos de aposentados. A comissão diz que mais de R$ 800 milhões passaram pela Conafer e cerca de R$ 140 milhões seguiram a um auxiliar.
- Quem é Cícero Marcelino e qual a ligação com Lopes?
- Cícero é apontado como principal operador ligado à Conafer. Teria recebido repasses, teve empresas beneficiadas (como a Santos Agro) e é sócio com Lopes em uma offshore em Delaware, segundo a CPMI.
- Há outros fatos ligados ao caso e ao INSS?
- Documento do INSS (out/2020) identificou inclusão anormal de descontos na pandemia e 95.818 novos associados entre abril e agosto de 2020. A CPMI já havia prendido outro envolvido, Rubens Oliveira, na semana anterior.