Você vai ler sobre como a pobreza e a desigualdade chegaram ao menor nível em trinta anos e como o Bolsa Família ampliado ajudou, mesmo sendo caro. O estudo do Ipea mostra queda da extrema pobreza e aumento da renda média. A melhora pode arrefecer à frente. Aqui você vai entender por que isso aconteceu e o que pode mudar.
- Pobreza e desigualdade caíram ao nível mais baixo em décadas
- Bolsa Família ampliado é caro, mas ajudou a reduzir a extrema pobreza
- Emprego e transferências de renda foram motores da recuperação
- A melhora não foi contínua e dependeu de fases de estímulo fiscal
- Sem espaço fiscal, o avanço pode perder força e precisa de políticas para manter empregos
Pobreza e desigualdade chegam ao nível mais baixo em 30 anos, aponta Ipea
Você precisa saber: um estudo do Ipea, divulgado em 25 de novembro, mostra que em 2024 o Brasil registrou os menores índices de pobreza, extrema pobreza e desigualdade desde 1995. A renda média por pessoa alcançou o maior patamar dos últimos 30 anos.
Principais números e conclusão do estudo
O levantamento usa dados da PNAD Contínua (IBGE) e aponta que, entre 1995 e 2024, a renda média mensal por pessoa subiu quase 70%, de R$ 1.191 para R$ 2.015. O coeficiente de Gini caiu de 61,5 para 50,4. A taxa de extrema pobreza recuou de 25% para menos de 5%.
Os autores do Ipea concluem que o país melhorou significativamente no longo prazo, embora a trajetória tenha sido marcada por altibaixos.
O que explicou a melhora: emprego e transferência de renda
O estudo identifica dois períodos de avanço: 2003–2014 e 2021–2024. A recuperação não foi contínua: houve interrupções na crise de 2014–2015 e na pandemia.
A decomposição dos ganhos indica que a melhora do emprego e a expansão de programas de transferência de renda contribuíram de forma aproximadamente igual para os indicadores. Para a queda da extrema pobreza, as transferências tiveram impacto relativamente maior.
O papel do Bolsa Família e do gasto público
Pesquisadores apontam que a ampliação do Bolsa Família nos últimos anos foi eficaz. Entre 2019 e 2024, os pagamentos do Bolsa Família e do BPC cresceram 135% em termos reais, e os gastos passaram de 1,2% para 2,3% do PIB.
O número de famílias beneficiadas subiu de 13,8 milhões em 2019 para mais de 20 milhões no início de 2024, reduzindo para 18,6 milhões em novembro após revisões. O valor mínimo do benefício subiu de R$ 400 para R$ 600, e a linha de elegibilidade é R$ 218 por pessoa por mês.
O orçamento do programa em 2025 foi de R$ 158 bilhões, ficando atrás apenas de gastos com Previdência, saúde e educação.
Limites do avanço e desafios futuros
O Ipea destaca que a melhora recente ocorreu em um período de política fiscal expansionista e de mercado de trabalho aquecido para trabalhadores de baixa qualificação. O espaço fiscal atual é limitado; sem novas folgas orçamentárias, a tendência é que a melhoria arrefeça.
Manter a evolução depende de duas frentes: conservar um mercado de trabalho aquecido para os menos qualificados e ajustar as contas públicas de forma gradual, evitando crises ou pressões inflacionárias que elevem juros e reduzam investimentos.
Políticas possíveis e expectativas
Os pesquisadores não prevêem ajustes radicais nas próximas eleições, dado o contexto social do país. Recomenda-se mudanças incrementais: iniciativas educacionais, ajustes tributários com mecanismos para beneficiar os mais pobres e alterações no Imposto de Renda que, somadas, podem produzir efeito positivo, ainda que lento.
Conclusão
A queda da pobreza e da desigualdade em 2024 decorre de emprego em recuperação e da expansão do Bolsa Família — medidas que agiram em conjunto. A extrema pobreza recuou com força porque as transferências atingiram quem mais precisava.
Mas o avanço é frágil: foi produzido num momento de política fiscal expansionista e mercado de trabalho aquecido. Sem espaço fiscal, os ganhos podem arrefecer se não houver emprego para os menos qualificados e um ajuste fiscal gradual que preserve o crescimento.
O caminho exige manter empregos, melhorar a focalização, avançar em educação e promover reformas tributárias graduais. Pequenos ajustes agora evitam rupturas depois.
Perguntas frequentes
O Bolsa Família expandido foi o principal responsável pela queda da pobreza extrema?
Sim. Estudos do Ipea indicam que a expansão das transferências teve papel central. Emprego e Bolsa Família atuaram juntos, mas as transferências pesaram mais na redução da extrema pobreza.
O aumento do orçamento do programa justifica o gasto alto?
Sim. O gasto (R$ 158 bilhões em 2025) trouxe retorno claro na redução da pobreza; pesquisadores consideram que, apesar de caro, o programa deu resultado social relevante.
A focalização do Bolsa Família piorou com a expansão e mudança de regras?
Não parece. Os dados indicam que o programa manteve foco nas famílias mais pobres, mesmo com aumento de beneficiários e mudanças nas regras.
Esses ganhos são sustentáveis sem novo estímulo fiscal?
É incerto. A melhora tende a arrefecer porque o ciclo de expansão acabou. Manter ganhos depende de sustentar o mercado de trabalho e evitar cortes bruscos nas contas públicas.
O que precisa ser feito para preservar a melhoria nos próximos anos?
Manter emprego para trabalhadores menos qualificados; fazer ajuste fiscal suave; apostar em políticas complementares (educação, tributos e programas de poupança) para reduzir desigualdades.
