O recente relatório do Unicef revela que a pobreza entre crianças e adolescentes no Brasil, apesar de ter melhorado desde 2017, ainda representa um desafio significativo. Em 2023, cerca de 28,8 milhões de jovens brasileiros ainda viviam em condições que o Unicef descreve como “pobreza em suas múltiplas dimensões”. Este termo vai além da simples análise da renda familiar, abrangendo sete dimensões essenciais para o desenvolvimento pleno de crianças e adolescentes.
A pesquisa baseia-se em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, e foca nas seguintes dimensões: renda, educação, acesso à informação, água, saneamento, moradia e proteção contra o trabalho infantil. Embora as condições tenham melhorado em todas essas áreas desde 2017, o ritmo de progresso varia significativamente entre elas. Destaca-se a queda acentuada na privação de acesso à informação, de 17,5% em 2017 para 2,5% em 2023.
Quais os Impactos da Pobreza na Infância e Adolescência?
Segundo a chefe de Políticas Sociais do Unicef, Liliana Chopitea, a falta de acesso aos direitos fundamentais na infância pode ter consequências econômicas a longo prazo. A pobreza afeta mais intensamente crianças e adolescentes, pois interfere no período essencial de desenvolvimento. Cada direito que não é garantido pode impactar o desenvolvimento não só imediato, mas também a capacidade de contribuição econômica dessas crianças no futuro.
A renda média das famílias com crianças melhorou, em parte devido à expansão do programa Bolsa Família. No entanto, outras áreas, como o saneamento básico, ainda mostram índices preocupantes: 38% das crianças estavam sem acesso adequado a saneamento em 2023. Além disso, o trabalho infantil, um critério crucial, manteve-se praticamente inalterado, revelando a complexidade para se alcançar melhorias significativas em todas as dimensões.
Quais as Desigualdades Regionais na Pobreza Infantil?
O estudo destaca diferenças regionais marcantes. Áreas rurais enfrentam privações mais severas, com taxas de até 95% em 2023. Em contraste, regiões urbanas mostraram uma ligeira melhoria, reduzindo esse índice de 51,8% em 2019 para 48,5% em 2023. Além das diferenças geográficas, desigualdades raciais também são evidentes, com crianças negras vivendo em condições mais adversas do que crianças brancas.
O saneamento foi a dimensão mais crítica em termos de privação, tanto em áreas urbanas como rurais. A maior porcentagem de crianças vivendo sem condições básicas de saneamento nas áreas rurais chega a quase 92%, destacando a necessidade urgente de investir em infraestrutura básica.
Como a Pandemia da Covid-19 Impactou a Pobreza Infantil?
A pandemia de Covid-19 teve um impacto negativo na alfabetização dos jovens brasileiros. A porcentagem de crianças entre 7 e 8 anos não alfabetizadas dobrou de 14% para 30%, entre 2019 e 2023, segundo o Unicef. A interrupção das atividades escolares durante a pandemia contribuiu para esse aumento acentuado, afetando diversas gerações que estavam em fases críticas de aprendizado.
Além dos impactos na educação, a pandemia afetou a saúde mental de crianças e adolescentes, criando desafios adicionais para o aprendizado e desenvolvimento. Isso enfatiza a necessidade de políticas públicas que abordem não só a recuperação educacional, mas também o bem-estar emocional dessas populações, cujos efeitos poderão ser sentidos a longo prazo.
Conclusão
Os dados apresentados pelo Unicef indicam avanços e desafios contínuos na redução da pobreza infantil no Brasil. Embora alguns progressos tenham sido feitos, outros desafios, especialmente relacionados ao saneamento e trabalho infantil, permanecem consideravelmente estagnados. A importância de políticas integradas que abordem todas as dimensões da pobreza é fundamental para assegurar o desenvolvimento pleno das futuras gerações de brasileiros.
